segunda-feira, 30 de abril de 2012

O silêncio dos índios


Nós, os índios, conhecemos o silêncio. Não temos medo dele.
Na verdade, para nós ele é mais podereso do que as palavras.
Nossos ancestrais foram educados nas maneiras do silêncio e eles nos transmitem esse conhecimento: "observa, escuta, e logo atua", nos diziam. Esta é a maneira correta de viver.
Observa os animais para ver como cuidam dos seus filhotes; obseva os anciões para ver como se comportam; observa o homem branco para ver o que querem; sempre observa primeiro, com o coração e a mente quietos, e então aprenderás. Quando tiveres observado o suficiente, então poderás atuar.
Com vocês, brancos, é o contrário. Vocês aprendem falando; dão pêmios às crianças que falam mais na escola; em suas festas, todos tratam de falar; no trabalho estão sempre tendo reuniões nas quais todos interrompem a todos, e todos falam cinco, dez, cem vezes, e chamam isso de resolver um problema.
Quando estão numa habitação e há silêncio, ficam nervosos, precisam preencher o espaço com sons. Então falam compulsivamente, mesmo antes de saber o que vão dizer.
Vocês gostam de discutir. Nem sequer permitem que o outro termine uma frase; sempre se interrompem.
Para nós isso é muito desrespeitoso e muito estúpido, inclusive. Se começa a falar, eu não vou te interromper; te estutarei.
Talvez deixe de escutá-lo se não gostar do que estás dizendo, mas não vou interromper-te.
Quando terminares, tomarei minha decisão sobre o que disseste, mas não te direi se não estou de acordo, a menos que seja importante.
Do contrário, simplesmente ficarei calado e me afastarei. Terás dito o que preciso saber. Não há mais nada a dizer.
Mas isso não é suficiente para a maioria de vocês. Deveríam pensar nas suas palavras como se fossem sementes; deveriam plantá-las e permiti-las crescer em silêncio. Nossos ancestrais nos ensinaram que a terra está sempre nos falando, e que devemos ficar em silêncio para escutá-la.
Existem muitas vozes além das nossas. Muitas vozes.
Só vamos escutá-las em silêncio.

Enquanto estava lendo essa passagem, lembrei-me de uma das vivências na Fazenda Mãe Natureza e de Francisco Barreto!


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